A trágica morte do advogado e funcionário do Fórum de Pé de Serra, Adelmo Fernandes Rios, 46 anos, vítima de afogamento nas águas da barragem de Sobradinho, foi cercada de mistérios até o seu sepultamento, nesta quinta-feira (26), quando testemunhas revelaram os fatos ao Interior da Bahia.
Tudo começou com o plano de uma pescaria entre amigos, marcada para o Rio São Francisco, mais precisamente nas águas represadas pela Barragem de Sobradinho, no município de Sento Sé, a cerca de 115 km de Juazeiro, na região norte da Bahia.
Adelmo, que se formou recentemente em Direito, trabalhava no Fórum de Pé de Serra – sua terra natal-, no Cartório de Registro de Imóveis. Ele saiu de Feira de Santana, onde estava residindo, e se encontrou com o amigo Gilcimário Queiroz, em Nova Fátima. Ele deixou o seu veículo na casa de um primo e seguiu no de Gilcimário para se encontrarem com mais quatro amigos, irmãos de igreja, em Pilar, Jaguarari: José Brito, Carlos, Paulo Barbosa e Ailton.
De acordo com informações de José Brito ao Interior da Bahia, de Pilar eles viajaram em sua F1000 com destino a Sento Sé. Era a segunda-feira, dia 23. Na terça-feira (24), por volta do meio-dia, começou a tragédia.
O drama nas águas da barragem
Como os amigos, Adelmo pescava de anzol e com vários equipamentos, apesar de não estar com colete. Segundo informações de José Brito, um dos amigos que estavam na pescaria, e de Saulo Lopes Rios, sobrinho de Adelmo (e filho de Antônio, irmão da vítima) que esteve no local da tragédia, a roupa utilizada e a profundidade do lago (cerca de três a quatro metros), foram os principais causadores da morte do advogado.
“Nós estávamos em uma represa, tipo um braço da barragem, a água era na altura da cintura, mas tinha um riacho que vai para o rio, que era fundo e ele não conhecia. Os que conheciam o local estavam mais afastados. Uma maleta de pescaria teria se soltado do corpo de Adelmo e o vento empurrou a uma distância de uns 10 metros. Pelo movimento que vimos, ele foi pegar a maleta e voltou nadando, mas as botas que ele usava devem ter atrapalhado e ele pode ter se cansado, não conseguindo retornar”, revelou José Brito.
“Era meio-dia e Gilcimário tinha ido aprontar o almoço. O mais perto de Adelmo estava a uns 150 metros. Vimos ele se batendo na água e botando os braços para cima pedindo socorro. Corremos para socorrer e vimos que ele desceu pela segunda vez e não voltou mais. Procuramos de todo jeito, mas não encontramos nada”, acrescentou José Brito.
O desespero no deserto
Era por volta das 12h da terça-feira. Adelmo Fernandes desapareceu nas águas, depois de aparecer duas vezes na superfície para pedir socorro aos companheiros. A tragédia aconteceu a de 22 km do povoado de Piçarrão, no município de Sento Sé, a cerca de 115 km de Juazeiro. “Eu perguntei que hora era, e me disseram: umas 12”, disse José Brito.
O desespero bateu em todos. O grupo se reuniu às pressas para tomar uma decisão. Procuraram um telefone e só foram encontrar no povoado de Piri, em Sento Sé, a 22 km do local da tragédia. O contato foi feito com a família e com o Corpo de Bombeiros de Juazeiro. A procura avançou durante o resto do dia de terça-feira, retornando na manhã de quarta.
Por volta das 10h, o corpo de Adelmo foi encontrado. Todas as informações levam a acreditar que o advogado lutou muito para se salvar, mas, usando uma calça jeans, camisa de manga comprida e outra por baixo, além de uma bota sete léguas, dificultaram os seus movimentos. “Ele estava em pé, com uma mão segurando um pau e a outra para cima, como se tivesse se esforçando para subir. Estava com uma bota no pé e a outra fora, a uns sete metros, certamente porque ele tirou para se livrar, mas não conseguiu tirar as duas”, disse José Brito.
O corpo de Adelmo foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) de Juazeiro, após ser encontrado nas águas do lago de Sobradinho, praticamente no mesmo local onde havia desaparecido. Chegou a Pé de Serra na madrugada desta quinta-feira, por volta da 00h20, em carros de familiares. Foi velado durante a madrugada e manhã de quinta-feira, sendo sepultado por volta das 12h.
Por Evandro Matos