Aluno: Fred Dantas. Orientador: Paulo Costa Lima.
Os 100 anos da Filarmônica Lira 8 de SetembroFred Dantas
Então eu pensei: o que estou a fazer nessa estrada, numa tarde de sábado, sozinho dirigindo meu carro entre caminhões enormes e outros carros apressados, procurando chegar a uma cidade chamada Riachão do Jacuípe?
Quando me desloco geralmente é por trabalho remunerado, por objetivos culturais específicos, por razões de família ou simplesmente por lazer. A princípio achei muito bom o convite da senhora Dona Branca (Maria do Rosário Carneiro da Silva, filha de uma diretora da sociedade, que participou das comemorações dos 50 anos da Lira e agora tomou a frente dos 100 anos), quer dizer, eu entendi a importância dos 100 anos da filarmônica Lira 8 de setembro, só não entendia era como eu acabei topando e estava agora ali, dirigindo em uma estrada que não conhecia, eventualmente refrescando a garganta com pequenos goles d´água.
E lá estava eu naquele hotel, aguardando. Quando finalmente o Sr. Fernando Almeida, velho conhecido e ex-presidente veio me buscar, já estava uma banda tocando, na praça ao ar livre, com muita gente escutando. A banda de Ibipeba com aquele maestro Gerry Armando, de gesticulação correta, paletó, uma banda de adolescentes bem fardada, bem equipada, mas tocando um repertório onde estava uma redução do 1° movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven, um sucesso de Andréa Boccelli, mas também algum dobrado conhecido como o Mão de luva, de Naegele.
A segunda banda foi a de Pé de Serra. A banda dos Funga (louros, galegos do sertão) e a tradição que remonta à descrição de uma apresentação desses músicos para D. Pedro II e as citações de ópera advindas do Corso de Salvador. A Sociedade Filarmônica 6 de Agosto, da cidade de Pé de Serra, ou melhor, os Barbeiros de Pé de Serra, como ficaram celebrizados esses músicos, ou seus ascendentes, que tocaram para D. Pedro II em uma estação ferroviária, na célebre viagem que o levou a Santo Amaro da Purificação. Pois esse músicos ainda hoje tocam durante o carnaval da sua cidade pequenos trechos de ópera (identifiquei Aida e Ernani, ambas de Verdi) entre uma música e outra do seu repertório. Aprendidas de ouvido, provavelmente derivadas do “Corso” de Salvador. Iniciou sua apresentação com um dobrado, mas quando executou um maxixe, segundo o jovem maestro, “da nossa tradição”, a platéia se animou e aplaudiu muito. O mestre Rildo é filho de Antônio Funga, que toca bravamente o seu sax alto, líder da família que mantém o grupo há dois séculos...
...Numa cidade onde existe o Baile Pastoril e alguns grupos de Samba Rural, não é de todo estranho que a solenidade ao final configurasse uma festa na rua, onde se celebrou uma espécie de “samba de brancos” (alguns grupos de samba rural preferem a denominação “samba brasileiro” para diferenciar do samba propriamente dito, negro enfim). Como filarmônica em geral é boa de partitura e não tão boa em samba, a iniciativa partiu dos Barbeiros de Pé de Serra, que nesse momento demonstraram sua natural aptidão para tocar de ouvido e animar as pessoas, como faziam seus ancestrais.
FRED DANTAS/ POR RILDO RIOS
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