Rildo

terça-feira, 26 de maio de 2020

Quem sou Eu na vida?

Eu sou um simples cidadão de Pé de Serra e, assim como tantos outros, tenho um carinho e respeito por essa cidade pequena e adorada. Venho de uma família muito humilde, passei por muitas dificuldades durante toda a vida, e assim deve ser a maioria dos meus conterrâneos. Quando criança comecei a entender um pouco o mundo à minha volta, percebi logo a divisão que existia na comunidade - era e é uma separação de classes sociais.
Lembro de outras crianças pelas ruas da cidade, a maioria tinham roupas melhores, brinquedos diferentes e tinham quem sabe a vantagem de pertencer a uma família de melhor condição econômica. Meus amigos eram quase todos como Eu, por ventura tinha vontade de ser amigo dos outros meninos ricos pra quem sabe conhecer e provar de coisas que não podia ter. Até tentei, mas era ilusão, a sociedade é dividida e em muitos casos pelo que se tem e não pelo que se é.
Bem, não sei por quê estou escrevendo esses devaneios, apenas escrevo, nem sei se devo! Na escola era nítida a separação das pessoas, alunos e alunas de famílias com melhores condições ficavam juntos e juntas, e a gente do povo pobre e sem nada ficava a deriva na sala. No entanto eu fui aprendendo a ser forte, entendi que a educação era um caminho mais perto para ter uma vida melhor. Me chama a atenção que mesmo me alimentando de maneira irregular, com roupas muitas vezes costuradas pela minha mãe, a minha capacidade de aprender se sobressaia a de muitos colegas de classe nobre e rica. Ficava no fundo da sala, ouvindo os professores e tentando relacionar os ensinamentos com minha vida real - às vezes chorava em silêncio ao viver ilusões.
Aqui estou, com quase meio século de existência e ainda travo uma batalha desigual contra o sistema separatório que nossa sociedade cultiva. Os poderosos não dormem e se incomodam com a nossa astúcia  e inteligência. Talvez seja em razão de Eu enxergar o que eles não querem olhar ou fingem não ver. Eu olho no horizonte e vejo esperança, mesmo que as vezes ofuscada pelas armadilhas dos pseudos senhores e senhoras de "gente pequena".
Vou seguir meu caminho, agora olhando e prestando atenção no mundo à minha volta, aprendendo com meus erros e percebendo que os dominadores trocam de armas como se troca de roupas. E eu não tenho armas, apenas roupas velhas e uma vontade até hoje de seguir no meu caminho, até quando a vida me permitir. 

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