Deus, obrigado. Eu, assim como a maioria das famílias pobres do nosso município, nasci em uma época de muitas dificuldades. Foi no ano de 1971, e como sabemos em uma ditadura militar que imperava em nosso país. Meus pais ainda não tinham casa própria, vivíamos em mudanças constantemente, e minha mãe e meu pai faziam de tudo para sobreviver com sua família em uma sociedade desigual, sempre.
Lembro-me de comer coisas simples, a exemplo de farofa, café com farinha, cuscuz e quando tinha arroz com ovos, e de vez em quando tinha carne na mesa. Mas isso nunca tirou a dignidade de meus pais e não me fez inferior diante da vida. É claro que tive que me desdobrar logo cedo para sempre ajudar e ter o melhor para a família. Me recordo que saia com vara de pescar em açudes para poder ter o que comer, e isso me fez valorizar cada pedaço de comida que vejo hoje em dia. Vem na lembrança também, a saída pelas ruas procurando materiais recicláveis para vender, e o que mais me marcou foi coletar ossos do gado morto pela seca em terras alheias - ossos que dava o pão da noite ou da manhã.
Minha mãe sempre sofreu com doenças neurológicas e meu pai teve grande problema com o álcool, mas a gente lá em casa sempre aprendeu o caminho do bem. Na escola tinha um pouco de consciência que era um caminho para ser uma pessoa melhor e meu pai sempre deixou isso claro pra mim. Sofria "bulling" na escola, as famílias em melhores condições davam mais coisas a seus filhos, mas nunca fui pior do que ninguém, aprendi a respeitar e aprender a resolver os problemas que a vida oferece. Obrigado Deus. Grato aos meus pais.
Hoje com quase 50 anos, muitas histórias, muitos erros e muitas lutas e labutas, tenho entendimento que amanhã poderei não estar mais aqui ou ali, mas sei que se ainda estiver preciso continuar no caminho do bem e da busca por dias melhores. Sei que barreiras não faltarão e que muitos amigos e conhecidos me darão a mão, em momentos de fraqueza e necessidade.
A vida é como o vento, muda a cada momento.